Esta é uma daquelas épocas do ano onde várias pessoas deixam a inibição de lado e parecem querer mostrar com todo orgulho a dimensão de sua ignorância em assuntos de economia. Tão certo quanto o fato de quarenta dias após o Carnaval termos a Páscoa, é também o fato daquele parente, amigo, colega de trabalho/escola/faculdade ou de você mesmo tentar expor toda a ganância e perversidade de quem vende exatamente a mesma gramatura de um chocolate de uma barra, mas em formato de ovo, e cobra muito mais caro por isso.

Afinal de contas, de onde vem essa diferença? A resposta curta, porém não menos correta, é que as pessoas pagam por isso. De forma simplificada, os ovos de Páscoa são muito mais caros porque as pessoas os compram. Obviamente, vamos explorar a resposta mais longa e elaborada, do contrário, esse artigo acabaria aqui e você provavelmente não estaria muito convencido.

Ao contrário da nebulosa ideia que a maioria das pessoas tem do cálculo econômico, nesse caso mais especificamente do cálculo empresarial, o custo de produção de um bem ou de um serviço e o seu preço final não precisam ser proporcionais um ao outro. Em outras palavras, o preço de algo não necessariamente reflete o seu custo. O custo de algo se relaciona com o seu preço apenas para determinar se seria viável produzi-lo. Se o custo envolvido em algo é maior do que o seu preço final, não se produz esse algo. Isso tudo significa que não existe uma taxa de lucro uniforme em todos os setores da economia.

O preço é uma grandeza quantificável e, portanto, de natureza objetiva. Já o custo é uma entidade puramente subjetiva. Assim, mesmo em casos em que o montante referente a todo investimento para se produzir algo seja menor do que o preço final, ainda assim, o empresário pode julgar que não vale a pena produzir o item em questão. Em outras palavras, se o custo, avaliado subjetivamente pelo empresário, for menor do que o preço final, a produção se torna economicamente viável, o que de forma alguma significa que o empresário não possa ter feito uma avaliação equivocada, já que essa avaliação depende do conhecimento do empresário.

O produtor, então, tenta prever o preço ao qual ele espera vender o seu produto e, caso o custo esteja abaixo desse preço, ele lança o seu produto no mercado. Em uma situação ideal, um comerciante tentará vender os seus produtos pelo preço mais alto possível que o permita vender todas as unidades produzidas. O fato de alguém considerar o preço do produto muito alto e mesmo assim o produtor manter o preço indica que, dentro da sua esfera de avaliação, ele está vendendo o seu produto pelo preço que o permite obter lucro.

Por outro lado, quanto maior o custo, mais alto deve ser o preço de venda para permitir que o produtor lucre, pois mais alto será o custo avaliado pelo empresário. O custo de produção do chocolate em barra não é o mesmo que dos ovos de Páscoa. O processo de fabricação dos ovos de Páscoa requer um maquinário diferente, que é usado em apenas um pequena parte do ano, mas que deve ter o seu custo justificado no planejamento de longo prazo. Além disso, a linha de produção ocupa espaço o ano todo e todas as despesas relacionadas (maior gasto com aluguel, IPTU, etc.)  são consideradas na avaliação dos custos.  Resumindo, o custo é maior e por isso o preço de venda deve ser mais alto. Mas, voltando, preço e custo não são proporcionais entre si e os ovos de Páscoa são muito mais caros do que chocolate em barras. A pergunta então é: por que as pessoas pagam? Nas palavras de Carl Menger, fundador da Escola Austríaca de economia:

“Valor não é, portanto, algo inerente aos bens, não é uma propriedade deles e nem algo independente que existe por conta própria. É um julgamento que o homens enquanto participantes da economia fazem sobre a importância dos bens à sua disposição para a manutenção de suas vidas e bem-estar.” [1]

De forma simples, cada pessoa julga a “importância dos bens à sua disposição” e atribui a eles um valor e esse processo deixa bem claro, portanto, que o valor é de natureza puramente subjetiva. O que leva uma pessoa a julgar que os ovos de Páscoa valem mais do que as barras de chocolate vai além do estudo da economia.

Deve estar claro aqui que as pessoas não julgam os ovos e as barras como sendo iguais, caso contrário, elas não estariam dispostas a pagar mais pelo primeiro do que pelo segundo. Parte da razão pela qual existe essa diferença é que os ovos são vendidos em apenas parte do ano. Isso leva a um outro conceito crucial em economia: a utilidade marginal. Como se pode comprar uma barra em qualquer época do ano, a sua abundância é relativamente alta e a satisfação que uma barra de chocolate traz é menor comparada à satisfação proporcionada por um ovo de Páscoa, ou seja, a utilidade de uma unidade de cada um desses bens é diferente e normalmente maior no caso de um bem mais escasso.

Em resumo, os ovos de Páscoa são mais caros porque têm um custo de produção mais alto e porque a maioria das pessoas julgam que eles valem mais do que a mesma quantidade de chocolate no formato de barra por não serem tão comuns. Se mesmo assim, você não acha que o preço dos ovos de Páscoa é tamanho que justifique pagar por eles, compre as barras de chocolate. Apenas não reclame dessa diferença de preços como se existisse uma conspiração para se aproveitar de quem os compra, pois agora você já sabe a razão dessa diferença existir.

Por Daniel Chaves Claudino

Revisão por Larissa Guimarães

Notas

[1] Carl Menger, Principles of Economics, p.120.

Daniel Chaves Claudino

Peaceful parent, homeschooler, rothbardiano/hoppeano e doutor em química quântica.