O SUS é inimigo da filantropia

A palavra Filantropia deriva do grego ‘philanthropia’ e significa ‘amor ao homem’, mas também pode ser entendida como ‘amor à humanidade’. É por meio da filantropia que membros da nossa sociedade podem se dedicar à caridade, doando desde seu tempo e atenção até seu dinheiro. Pode-se dizer que é pela caridade que se manifesta o amor mais sincero pelo próximo, pois é por ela que grandes feitos são alcançados. Exemplo disso é a história da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo ou Santa Casa de São Paulo, como é conhecida. 

Fundada há mais de 400 anos, a Santa Casa de São Paulo tem papéis importantes em vários setores da história da medicina no Brasil. Foi graças ao filantropo Roberto Simonsen que, sensibilizado pela doença do seu filho, Fernandinho Simonsen, contribuiu financeiramente para a iniciativa da Santa Casa de criar o primeiro hospital de atendimento exclusivamente ortopédico do Brasil, o que, mais tarde, se tornaria o berço da Ortopedia no país. Lá foi criado o Pavilhão Fernandinho Simonsen, que se estabeleceu como a melhor instalação médica da época e também como o primeiro hospital dedicado exclusivamente às afecções ortopédicas na América Latina. Ali se instalaram importantes instituições como a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT, a Cadeira de Ortopedia da Faculdade de Medicina da USP, a Cadeira de Ortopedia da Escola Paulista de Medicina, e, atualmente, a Cadeira de Ortopedia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Precisa ficar claro que sem as Santas Casas seria impossível o governo prover atendimento para a população, pois os municípios e estados não possuem dinheiro suficiente para construir hospitais desse porte. Seriam necessários investimentos vultosos da ordem de milhões de Reais, não apenas para as edificações em si, como também para adquirir e manter equipamentos, insumos e mão de obra de médicos, enfermeiros, recepcionistas, auxiliares, copeiros, faxineiros e zeladores que seriam necessários para manter o bom funcionamento da instituição, sem mencionar os terceirizados. Apenas o setor privado tem aporte financeiro para este tipo de projeto e é aí que entram os filantropos.

Segundo dados do Ministério da Saúde, as Santas Casas correspondem a um pouco mais de 51% de todos os atendimentos a usuários do SUS, o que, por si só, já demonstra a importância da filantropia para a sustentação do que é o SUS. Apesar de haver mais de 2 mil instituições similares à Santa Casa de São Paulo, muitas, mesmo com a ação da filantropia, estão definhando. A prova disso são os fechamentos constantes dessas instituições que foram completamente vilipendiadas pela incompetência estatal de administrar recursos. 

Graças às sucessivas interferências do estado na administração das Santas Casas, a caridade já não é mais suficiente para suprir a demanda do SUS. Mas como é possível que as Santas Casas, ainda assim, atendam mais de 51% dos casos do SUS “de graça”? Em primeiro lugar, a tabela de valores do SUS está incrivelmente defasada, sendo assim, o repasse pelos atendimentos mal cobre os gastos com os pacientes. Prova disso é que a Santa Casa de São Paulo criou o Hospital Santa Isabel com o intuito de utilizar o dinheiro dos atendimentos a pacientes por convênio e particulares para cobrir parte das suas dívidas. Em segundo lugar, existe um problema que acomete todas as instituições que o estado se mete a administrar, interferir e regulamentar, chamado corrupção. 

O desvio de verbas dentro desse sistema é monstruoso, o governo federal alega que não pode fiscalizar as Santas Casas, pois este seria um trabalho dos estados e municípios. Quando fazemos um breve levantamento das dívidas das Santas Casas podemos facilmente verificar que o dinheiro escoa por licitações e superfaturamentos. Em muitos casos, a intervenção do estado e da prefeitura acontece em momentos delicados para essas instituições, sempre sob a alegação de que a Associação Beneficente da instituição não faz um bom trabalho administrando os próprios recursos. Não para a nossa surpresa, o problema das dívidas se agrava após as intervenções, muitas vezes, sendo a dívida multiplicada por dez, vinte vezes o seu valor. 

Em 2014, a Santa Casa de São Paulo chegou a interromper os atendimentos de emergência por falta de dinheiro. Em uma cidade com aproximadamente 20 milhões de habitantes, contando com a região metropolitana, essa carência por serviços de saúde tem um impacto muito grande na sociedade. Além disso, quem circula pelas imediações da Santa Casa pode ver ambulâncias de Santas Casas de outros estados, o que significa que a instituição não atende apenas as pessoas da cidade, mas também presta atendimento aos estados vizinhos. Isto é, com recursos da filantropia, a Santa Casa também presta atendimento às pessoas de outros estados porque, muito provavelmente, a Santa Casa daquele lugar, se já não fechou, está falida e com suas contas no vermelho há muitos anos. O que sobra é recorrer à caridade do vizinho que, na maioria dos casos, faz o que pode.

O SUS não foi a primeira empreitada fracassada do Brasil na área da saúde. Já existiram o INPS (Instituto Nacional da Previdência Social) e o INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) e que depois se transformou em INSS (instituto Nacional da Seguridade Social). O Brasil tem muita vocação para criar nomes diferentes para os mesmos fracassos, muda o nome e mantém a estrutura coletivista, com cara de caridade e com alma de golpe digno das maiores pirâmides financeiras. Pelo menos na época do INAMPS a estrutura era modesta e o estado não escondia a sua incapacidade de produzir algo de valor, pois apesar de possuir estabelecimentos próprios, os procedimentos eram realizados pela iniciativa privada. Então, em 1988, nasceu essa aberração que é o SUS: um sistema com uma propaganda regada com o infinito dinheiro do trabalhador que paga a “contribuição” mesmo já pagando planos de saúde caros que, pasmem, são de péssima qualidade porque são regulamentados pela mesma entidade que está matando as Santas Casas: o estado. Logo, como o SUS poderia dar certo se várias tentativas menos ambiciosas já tinham dado errado no passado?

Apenas recapitulando, há quase quinhentos anos, em 1543, surgia a Santa Casa de Santos, e, logo em seguida, em 1562, surge o primeiro registro da existência da Confraria de Misericórdia da Vila de São Paulo, que viria a se tornar a Santa Casa de São Paulo. Então, como instituições com mais de 400 anos de caridade e inúmeros projetos bem sucedidos podem entrar em processo de falência e acumular dívidas com valores estratosféricos com apenas 33 anos de existência do SUS? O que foi que deu errado nesses 33 anos em que o estado se meteu a fazer a caridade que já vinha sendo feita com tanta maestria pelo setor privado? Será que o estado viu no dinheiro da filantropia uma forma de enriquecimento fácil? Cria-se uma estrutura monstruosa e incapaz de se autogerir, com falhas enormes por onde escoa o dinheiro limpo da filantropia sem que a população se dê conta, pois, afinal, as Santas Casas continuam dando um jeito de atender os enfermos e necessitados que procuram por tratamento. Por que não fazemos, de uma vez por todas, o exercício de obrigar que o SUS retire seus tentáculos putrefatos da filantropia antes que esta morra por falta de atendimento? 

Imagine ser um filantropo no Brasil. Agora, imagine ter dinheiro para investir em hospitais que podem prestar atendimento para mais da metade da demanda do sistema público de saúde e ser constantemente repelido pela ideia de corrupção que assola a filantropia por meio do SUS. No final das contas, o benefício das isenções fiscais não parecem tão atraentes para um filantropo, e inclusive pode ser cada vez mais difícil encorajar que outros filantropos participem ativamente, como na época em que Roberto Simonsen apoiou o projeto da Santa Casa de São Paulo. Não é possível tratar-se apenas de coincidência, pois as Santas Casas atravessaram mais de quatro séculos com saúde financeira e, nos 45 minutos do segundo tempo, quando o estado resolve entrar no jogo, sob o argumento de ajudar a levar saúde de forma universal para todos os brasileiros, começa uma quebradeira desenfreada envolvendo o projeto mais belo, que retrata a bondade, a dedicação, a necessidade de ajudar o próximo por meio da filantropia.

A caridade, que não enxerga muros, barreiras e proibições, que cruza oceanos e que enfrenta pragas e todo tipo de intempérie para levar aos necessitados uma amostra de bondade, que leva esperança para as pessoas mais frágeis e muitas vezes as mais negligenciadas da nossa sociedade. A caridade, aquela que viveu muito bem por quase 500 anos e que começou a sucumbir por uma morte lenta e dolorosa quando o estado se apossou das suas virtudes. O estado, essa entidade espúria, composta por burocratas demagogos, decrépitos e corruptos, que, por meio do SUS, sentenciou a filantropia do Brasil à morte lenta.

Revisado por Bruno Cavalcante e Daniel Claudino

Download do livro O Ambientalista Libertário – Marco Batalha

Hoje em dia, há várias questões ambientais preocupantes, como a exaustão de recursos naturais, a poluição, a extinção de espécies, as mudanças climáticas globais e as pressões decorrentes do alto crescimento populacional. Normalmente, as soluções apresentadas são impostas de cima para baixo, usando o aparato coercitivo do estado. Essas soluções não só são antiéticas, como antieconômicas. Neste livro, argumenta-se que se alguém quiser de fato solucionar os problemas ambientais, deve seguir o princípio da não-agressão e a ética da propriedade privada, que dão um critério universal para a resolução de conflitos. Dentro dessa ótica austrolibertária, aquelas questões ambientais são analisadas. Defende-se a posição de que bens naturais e serviços ambientais devem ser privatizados simplesmente porque é a única opção ética. Além disso, também é a melhor do ponto de vista econômico, pois cria valor, gera riqueza e faz com que tenhamos a exata quantidade de natureza que a sociedade considera ideal.

 

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Cidades Privadas: Um modelo para uma sociedade realmente livre?

Imagine um sistema em que uma empresa privada ofereça os ¨serviços do governo¨ como proteção a vida, liberdade e propriedade. Esses serviços incluem segurança interna e externa, um marco legal e regulatório e decisões independentes de disputas e você pagaria uma anuidade fixa contratual por esses serviços. O provedor de serviços governamentais como um operador de comunidade não poderia mudar unilateralmente o ¨contrato dos cidadãos¨ firmado com você posteriormente. Como um ¨cidadão contratante¨ você tem o direito de fazer cumprir e reinvidicar danos e também casos de mal desempenho por parte da empresa contratada. Você toma conta de todo resto por você mesmo mas você também pode fazer tudo o que quiser limitado apenas pelo direito dos outros de moderar as regras de convívio. Isso inclui unir-se a outros para todos os fins e propósitos. Disputas entre você e o prestador de serviços governamentais são ouvidas em tribunais de arbitragem independentes, como é de costume no direito comercial internacional, se o operador ignorar as sentenças arbitrais ou abusar de seu poder de outra maneira, seus clientes se vão e ele vai à falência. Assim sendo, se há incentivo econômico, também há incentivo para que a empresa trate bem o seu cliente e de acordo com o contrato acordado.

Esse sistema é chamado de Free Private City. À primeira vista, pode parecer ultrajante, escandaloso, utópico, mas nós já utilizamos essa abordagem de serviços com muito sucesso em outras áreas de nossas vidas. A tranferência para a nossa ordem social é apenas o último passo em desenvolvimento já encaminhado. A única coisa nova neste sistema de coexistência é a sua base puramente privada, mas este sistema é mesmo assim capaz de prover melhor, mais barato e com muito mais liberdade todos os serviços (especialmente segurança) pelo contrato dos cidadãos, do que todos os requeridos por residentes de estados anteriores. Os principais elementos do livre mercado são simplesmente aplicados ao nosso convívio, ou seja, a troca voluntária de serviços, o direito de rejeitar ofertas e finalmente a competição como método de descobrimento, o meio de limitar o poder e filtrar qualidade. Desde que a participação nas FPC são voluntárias, a ideia tem que ser permanentemente atrativa, caso contrário não atrairá ninguém ou até mesmo os seus residentes a deixarão.

Especialmente este design de contrato de serviço tem suas vantagens já testadas e comprovadas, corresponde a tudo o que sabemos sobre negócios privados do cotidiano, seja pela compra de pães do padeiro, até à conclusão de uma cláusula de seguro ou à nomeação de um consultor fiscal. A base é sempre um contrato recíproco mutuamente acordado, isso regula qual produto e serviço deve ser fornecido, em que condições e a que preço. Assim como o caso do padeiro o contrato surgiu por meio de ação implícita, pois o comprador sabe que seu parceiro de contrato tem interesses econômicos, ele não precisa fingir que é motivado pelo bem comum do resgate da humanidade. Disputas deverão ser referidas para côrtes independentes ou órgãos de arbitragem, nenhum vendedor conseguiria posteriormente cobrar o conteúdo unilateralmente (“A partir de agora você paga em dobro ou recebe um serviço adicional ao qual você não fez nenhum pedido) ou teria uma disputa resolvida exclusivamente por sua própria instituição.

Em uma cidade empresarial, todos são soberanos sobre si mesmo por acordo voluntário, que conclui um contrato genuíno com um provedor de serviços mais ou menos comum, o Contrato de Cidadão. Ambas as partes possuem os mesmos direitos formais e portanto, estão legalmente em pé de igualdade. A relação entre autoridade e subordinado é substituído pela relação cliente e prestador de serviço, em contraste com os sistemas convencionais onde o cidadão é obrigado a pagar impostos sem ter o direito aos benefícios correspondentes, ema FPC o serviço e a compensação estão diretamente relacionados, pois ambos os contratantes são obrigados a cumprir o contrato, ou seja, o operador pode exigir o pagamento da contribuição fixada pelo cidadão contratado porém sem taxas adicionais. Por sua vez, o cidadão contratado pode demandar judicialmente que o operador cumpra com suas obrigações contratuais, por exemplo, garantindo assim a segurança e um sistema funcional de direito civil. Quem está atualmente no comando da companhia operadora ou a quem ela pertence não é relevante ao funcionamento do modelo.

Uma cidade empresarial não é uma ideia utópica, mas sim uma ideia de negócio na qual os elementos funcionais já são conhecidos e apenas precisam ser transferidos para outro setor, a convivência. Basicamente, como um provedor de serviço, o operador apenas fornece a estrutura dentro da qual a sociedade pode desenvolver-se no sentido de uma ordem espontânea.

Principais características de uma cidade empresarial

Cidades empresariais são caracterizadas pelos seguintes elementos:

  1. Uma cidade empresarial é uma autoridade local soberana ou pelo menos semi-autônoma com sua própria estrutura legal e regulatória, e seus próprios impostos, costumes e regime social, bem como sua própria administração, forças de segurança e um sistema independente de resolução de disputas.
  2. Uma cidade empresarial é administrada por uma empresa operacional como uma empresa com fins lucrativos. Por uma taxa básica fixa, garante aos habitantes proteção da vida, liberdade e propriedade.
  3. Participação e residência são voluntárias em uma cidade empresarial.
  4. Não há reivindicação legal para admissão em uma cidade empresarial; o operador decide sobre isso de acordo com seus critérios e sua discrição.
  5. Cada residente individual concluiu um contrato de cidadania por escrito com a cidade empresarial ou sua empresa operacional, que regulamenta de forma conclusiva os direitos e obrigações mútuos. Isso inclui os serviços a serem prestados pelo operador e o valor a ser pago por eles, bem como as regras aplicáveis na cidade privada.
  6. O contrato de cidadão não pode ser alterado unilateralmente, pois representa a ¨constituição pessoal¨de cada cidadão.
  7. Além disso, os cidadãos podem fazer o que quiserem, desde que não violem os direitos dos outros ou as outras regras estabelecidas no Contrato de Cidadão.
  8. Todos os adultos contratuados e legalmente capazes são responsáveis ​​pelas consequências de suas próprias ações, e não pela “sociedade” ou pelo operador da cidade. Além dos pedidos de apoio contratual ou familiar, não há direito a viver à custa de terceiros.
  9. Qualquer residente pode rescindir o contrato a qualquer momento e deixar a cidade empresarial novamente, mas o operador só pode rescindir o contrato por justa causa, por exemplo, violação de obrigações contratuais como a continuação do não pagamento da taxa.
  10. Em caso de conflitos com a empresa operadora, cada parte tem o direito de recorrer a tribunais independentes (arbitragem) que não fazem parte da organização do operador.

O pacote básico do operador, que deve ser aceito e pago, inclui forças de segurança e resgate, uma estrutura legal e reguladora, uma certa infra-estrutura e tribunais independentes e órgãos de resolução de disputas. Para garantir a participação voluntária, idealmente a área deve começar desabitada.

Autonomia

Para implementar uma Cidade Privada Livre, é necessária autonomia interna, isso não significa necessariamente soberania sobre o direito internacional, mas pelo menos o direito de regular os próprios assuntos de forma independente. O estabelecimento de uma cidade privada exige portanto um acordo contratual com um estado existente. Neste contrato, a nação hospedeira concede à empresa operadora o direito de estabelecer a cidade privada em um território definido de acordo com as condições acordadas.

Cidades privadas livres, portanto, não correspondem a novas cidades administradas privadamente ou a condomínios fechados que estão totalmente sujeitos às leis do respectivo estado, ou cidades-estados autoritárias como Cingapura ou Dubai, que podem mudar unilateralmente as regras a qualquer momento. Eles também vão muito além das zonas econômicas especiais, correspondem a zonas administrativas especiais independentes, comparáveis, por exemplo, ao relacionamento de Hong Kong com a China. Os Estados podem ser atraídos por tal conceito se esperarem vantagens, como no estabelecimento de zonas econômicas especiais. Conseguir que os Estados existentes desistam de parte de sua soberania certamente não é uma tarefa fácil, no entanto esse caminho parece mais fácil do que mudar os sistemas existentes “de dentro” em direção a mais liberdade, segurança jurídica e auto-responsabilidade.

Dê uma olhada em Hong Kong, Singapura ou Mônaco. Perto de cada uma dessas cidades uma espécie de cinturão de prosperidade cresceu em torno deles nos países vizinhos. Seus habitantes pagam impostos nos países vizinhos, além disso, essas cidades-estados criam muitos empregos para pessoas dos países vizinhos que, de outra forma, poderiam permanecer desempregados. Se uma Cidade Privada Livre é criada em uma área anteriormente estruturalmente fraca ou desabitada, então o estado hospedeiro não tem nada a perder e tudo a ganhar.

A convivência em uma cidade privada é baseada em apenas alguns princípios. Os princípios orientadores são autodeterminação e autonomia privada, a regra de ouro aplica-se a viver juntos como é expresso no provérbio “Não faça aos outros o que você não quer que os outros façam a você”. Além disso, o princípio do ut des (“eu dou para que você dê”), ou seja, o reconhecimento de que o mérito é baseado na reciprocidade; finalmente, o princípio do voluntarismo ou da não-agressão, ou seja, a prioridade da cooperação voluntária sobre a coerção e a expropriação, incluindo a expropriação por supostamente ¨boas causas¨. Para cumprir estas regras básicas, medidas coercivas podem ou devem ser aplicadas, violações graves ou repetidas também levam à exclusão da cidade privada, mas o direito de terminar a sua estadia na cidade privada a qualquer momento faz parte do conceito de voluntariedade.

Cidades empresariais esperam que seus cidadãos sejam maduros e independentes. Isso inclui assumir a responsabilidade por si mesmo e pelos outros, fortalecer as famílias e as pequenas comunidades, bem como usar imaginação e engenho para superar as dificuldades. Em troca, há a alegria e a satisfação de poder dominar sua vida por seus próprios esforços, de acordo com suas próprias idéias. A longo prazo, uma comunidade de pessoas autoconfiantes, brilhantes e realistas crescerá dessa maneira. Se todos são livres para decidir o que querem fazer e como querem viver, também não há necessidade real de órgãos participativos, como os parlamentos, pois eles correm sempre o risco de serem seqüestrados por grupos de interesse ou pelo governo para seus próprios fins. O congelamento da mudança em favor da liberdade e da autodeterminação em uma cidade privada é o contrato dos cidadãos. Assim, os moradores podem concordar com uma representação de seus interesses e, por exemplo, estabelecer um conselho municipal, mas mesmo que 99% da população participe e voluntariamente se submeta à votação majoritária, este órgão não tem o direito de impor suas idéias aos outros 1% que não querem ter nada a ver com isso. Este é precisamente o ponto em que os sistemas estatais falham regularmente, a garantia de longo prazo da liberdade individual.

A exigência de lucro do operador da cidade é de importância central, muitas pessoas consideram a busca do lucro imoral e preferem não ter nada a ver com isso, eles não reconhecem que não há melhor incentivo para fazer o melhor uso dos recursos escassos e também garante transparência. O operador de uma cidade empresarial quer ganhar dinheiro, isso é claro, mas quais são os motivos e racionalidades dos políticos? Quase ninguém acredita que eles são movidos apenas pela preocupação com o bem comum, o incentivo de se encontrar com presidentes e reis como chefes de estado, buscando reconhecimento anunciando planos de resgate mundiais para as Nações Unidas, sendo proeminente e exercendo poder sobre as pessoas – em cidades empresariais todas essas coisas são menos importantes para o lucro. Naturalmente tais considerações também serão de interesse para o gestor da cidade ou prefeito nomeado pelo operador, mas no final ele tem que fazer o que é bom e lucrativo para a empresa operadora e, portanto, não pode simplesmente mudar as regras (porque os clientes iriam embora), participar de organizações internacionais, participar do circo da conferência ou receber personalidades famosas (despesas adicionais) por “pompa” sem valor mensurável. O sistema de incentivos é, portanto, muito diferente do de um político nos sistemas convencionais, lá o político pode perseguir os interesses pessoais descritos para aumentar sua fama às custas dos cidadãos, enquanto o chefe da administração de uma cidade empresarial não pode pelas razões mencionadas.

Em vez disso a concorrência e a exigência de transformar um lucro forçam o operador de uma cidade empresarial a melhorar permanentemente seu produto e otimizar o uso de recursos. Toda decisão que ele toma tem efeitos imediatos, isso aumenta a satisfação dos moradores ou não é reduzido por medidas de corte de custos? Em outras palavras: isso acabará gerando receitas maiores que as despesas? Se assim for, o lucro é obtido e o valor da empresa da cidade empresarial é aumentado, caso contrário, a medida deve ser revertida ou melhorada, tal eficiência nunca será alcançada pelos sistemas públicos de estado.

Como seria a vida em uma cidade empresarial?

Prestadores de serviços inovadores como o Uber ou o Airbnb, não são proibidos, mas é claro, há empresários privados que cobrem tudo o que é exigido, desde hospitais, escolas e jardins de infância até a coleta de lixo. Se desejado, os moradores podem se assegurar privadamente contra todas as eventualidades da vida ou criar grupos de auto-ajuda, seja para proteger contra doenças, morte, necessidade de cuidados ou acidentes. Rodovias, portos e shopping centers são construídos e operados por investidores, qualquer pessoa pode oferecer novos produtos e serviços sem autorização ou licença e ser pago em qualquer moeda desejada. Há também o uso de trabalhadores não qualificados – por falta de regulamentação do salário mínimo, produtos baratos podem ser importados de todo o mundo porque há livre comércio e, portanto, não há direitos aduaneiros. Novas drogas e métodos de tratamento estão disponíveis para qualquer adulto que queira testá-los com conhecimento do risco potencial. Os limites ambientais aplicam-se apenas a produtos e processos verdadeiramente perigosos, conforme determinado por pesquisas científicas sérias.

Há liberdade de expressão, até uma certa religião pode ser criticada e plena liberdade de contrato. Os cigarros são novamente negociados e anunciados sem avisos feios. Estão disponíveis aspiradores de alto desempenho e chuveiros, até mesmo lâmpadas antigas (na União Européia, as lâmpadas convencionais são proibidas hoje). A cidade faz suas próprias regras de imigração podendo sumarizar qualquer um que se torne um criminoso ou, por exemplo, cause um incômodo propagando a primazia dos dogmas religiosos sobre as regras da cidade. Devido a essa seleção positiva, os cidadãos contratados não precisam de visto para a maioria dos estados, as cidades empresariais que pertencem ao mesmo operador ou que estejam associadas a isso também têm um número de emergência globalmente uniforme, bem como consulados no exterior, nos quais os cidadãos contratados são auxiliados em emergências.

O crime e o vandalismo dificilmente existem, você pode até deixar seus filhos sairem às ruas à noite sem se preocupar com eles. Sociólogos, cientistas políticos, historiadores da arte e outros estudiosos de humanidades que geralmente povoam o serviço público e ONGs financiadas pelo estado tornaram-se raros. Como os estudos precisam ser pagos por eles mesmos os cursos de treinamento que prometem a perspectiva da demanda real do cliente são geralmente preferidos. Algumas empresas, incluindo nomes conhecidos não conseguiram se estabelecer aqui. Não há novas leis que possam ser influenciadas a seu favor nem potes de subsídios que possam ser aproveitados. Hosts de pessoas inteligentes que teriam se tornado funcionários públicos, consultores fiscais, advogados ou auditores em outros lugares trabalham no setor privado e aumentam a produtividade e a criação de valor.

O ativismo político, o zelo missionário, as lutas distributivas e a agitação de grupos sociais um contra o outro praticamente desapareceram. Os cidadãos do contrato respeitam as diferentes visões e avaliações de cada um. As pessoas são novamente responsáveis ​​por cuidar de si mesmas e, portanto, são automaticamente mais autoconfiantes, mais estáveis ​​e mais realistas em suas avaliações.

Depois de duas gerações, o mais tardar, as cidades privadas seriam mais ricas, mais livres e mais pacíficas do que qualquer coisa que conhecemos até agora.

Artigo Original

Tradução de Victor Uehara

Revisão por Larissa Guimarães

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Desarmamento: livros, palestras e artigos que destroem qualquer argumento desarmamentista

O objetivo deste post é oferecer algumas dicas de livros, palestras e artigos contra o desarmamento civil.

Existem pouquíssimos livros sobre o assunto em português, talvez por isso seja tão comum perdermos tempo explicando coisas básicas como o direito à autodefesa, que se o indivíduo não possuir esse direito, automaticamente é necessário a existência de um aparato monopolista da segurança para oferece-lo em sua forma positivista, o que gera a necessidade da cobrança de impostos para sustentar toda a burocracia envolvida, a ineficiência estatal e etc.

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O porquê você não é livre

[NR: Esse artigo é parte do Livro “How I found freedom in an Unfree World” – Pág. 4]

A liberdade é a oportunidade de viver a sua vida como você quer vivê-la. E isso é possível, até mesmo se os outros continuarem como são.

Se você não é livre agora, isso pode ser porque você esteve preocupado com pessoas ou instituições que você sente estar restringindo a sua liberdade. Eu não espero que você pare de se preocupar com eles simplesmente porque eu sugeri que você o faça. Eu espero te mostrar, entretanto, que essas pessoas e instituições são relativamente impotentes para impedir você – uma vez que se decida como vai alcançar a sua liberdade. Existem coisas que você pode fazer para ser livre e se você voltar a sua atenção para essas coisas, ninguém vai ficar no seu caminho. Mas quando você se preocupa com aqueles que estão te bloqueando, você ignora as muitas alternativas que poderia usar para contorná-los. Leia mais

Lista de leituras para o libertário iniciante

A ideia dessa lista é fornecer um guia de estudos sobre o que o libertário iniciante deve ler para se aprofundar no libertarianismo.

Obs: como a grande parte dos seguidores do site possui dispositivos Kindle ou gostam de versões impressas, vou deixar o link para a loja que eu mais uso: a Amazon.

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A chegada das eleições brasileiras: A nação pode abraçar uma economia livre?

No domingo, 7 de outubro de 2018, o Brasil realiza sua eleição presidencial e votará para deputados nacionais, governadores de estado e senadores. O Brasil possui um sistema partidário diversificado com dezenas de partidos políticos. Quando nenhum candidato alcança mais de 50% na primeira rodada, os dois candidatos com a pontuação mais alta competirão entre si na segunda votação algumas semanas depois.

A polarização política

A eleição de 2018 não é apenas uma das mais críticas na história recente do Brasil, é também a mais polarizada. Isso vem em parte da curiosidade de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha participação ativa na campanha eleitoral, apesar de estar preso por acusações de corrupção. Lula, como é popularmente chamado, foi condenado a mais de nove anos de prisão, mas continuou a exercer forte influência sobre seus seguidores e a mídia. Ele liderou o Partido dos Trabalhadores (PT) a grandes vitórias em 2002 e 2006 e durante seu segundo mandato ele foi o político mais popular no Brasil. Fernando Haddad, que é o candidato do Partido dos Trabalhadores, visita Lula com freqüência e se comunica com ele para obter instruções sobre como liderar a campanha eleitoral. Na campanha, Haddad até tenta imitar a voz distinta e o modo de expressão do ex-presidente.

Até o momento, dois principais candidatos à presidência emergiram: Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), e Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL). Além de seu confronto feroz na promoção de posições políticas extremistas de direita e de esquerda, os dois candidatos têm um populismo ardente em comum. Como indicam as atuais pesquisas, o eleitor deve (o Brasil tem voto obrigatório) tomar uma decisão entre a direita populista (Bolsonaro) e a esquerda populista (Haddad) na votação final prevista para 28 de outubro. Leia mais

As três lições econômicas que aprendi com meu pai

[N.T.: Este texto é uma homenagem ao meu pai – que apesar de bolsominion e pessimista (fruto de muito Schopenhauer) – é alguém que guiou-me a ser o que sou hoje, inclusive minhas tendências econômicas e filosóficas, além é claro o gosto por esses assuntos. Também quero homenagear o nosso querido Daniel Chaves que é um dos fundadores deste site, um grandíssimo amigo e pai pela segunda vez agora em Junho – do meu afilhado. Homenageio aqui também o Pedro Dias, também pai e também escritor para este site. Por fim, esta é uma homenagem a todos vocês que são pais e que são empreendedores, além é claro de serem pessoas éticas e intelectuais. Um belíssimo exemplo pros seus filhos. Feliz dia dos pais a todos vocês!]

Desde que o conheço, meu pai sempre foi do tipo empreendedor. Até mesmo agora, em seus setenta anos, tem pego empregos paralelos tanto para se manter ocupado quanto para ter um dinheiro extra para gastar.

Ao longo de toda a minha infância e juventude, ele sempre foi um corretor e vendedor de seguros independente. Ele costumava empregar uma ou duas pessoas para ajudar com os telefonemas e papeladas, mas também costumava apenas trabalhar sozinho.

Crescer, a ideia de ir trabalhar para uma grande empresa por 30 ou 40 anos e então se aposentar para um campo de golfe ou cadeira de balanço em algum lugar era algo completamente estranho para mim. As pessoas da minha idade hoje em dia esperam, em sua maioria, trabalhar em período integral até os 75 anos ou mais. Podemos esquecer as pensões e a Previdência Social. Mas mesmo quando uma aposentadoria de várias décadas parecia uma opção viável nos velhos tempos, isso não era algo a se aspirar em minha casa.

Em suma, papai sempre fez parte de um pequeno grupo minoritário nos Estados Unidos: o de pessoas que vivem do próprio negócio. Estima-se que apenas 10% dos americanos realmente ganham a vida com empresas próprias [1]. Os números são mais altos se olharmos para as pessoas que têm alguma renda de pequenas empresas à margem mas quando estamos falando de pessoas cuja principal fonte de renda é o próprio negócio, os números são menores.

Não é de surpreender que as pessoas que pertencem a esse grupo minoritário tenham uma maneira diferente de ver o mundo. Leia mais

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