Se quiser entender Murray Rothbard, você precisa manter um princípio em mente. Se você se lembrar disso, você terá a chave para entender completamente o pensamento dele. E você deveria querer entender Murray Rothbard porque ele foi o maior defensor americano da liberdade no século XX. 

O princípio em questão é que Murray Rothbard tinha uma visão consistente da boa sociedade que ele apoiou ao longo de sua extensa carreira. Ele descreveu essa visão em um vasto número de livros e de artigos, incluindo “Man, Economy and State – with Power and Market”[1] , “A Ética da Liberdade” [2] e “Egalitarianism as a Revolt Against Nature” [3]. Essa visão foi sempre a mesma.

Algumas pessoas, mesmo entre aqueles que conheciam e admiravam Murray, falharam em perceber isso porque eles o viam por meio de lentes políticas. Eles apontavam em suas alianças políticas, o vendo mudando da velha direita à esquerda e finalmente ao Paleolibertarianismo. Eles perderam o ponto essencial.

É claro que Murray queria colocar sua visão em prática, mas para ele, sua visão era primária. Se você se concentrar nas táticas políticas de Murray você vai perder o Murray real.

O que era a sua visão? Como todos sabem, Murray acreditava em um livre mercado completo. O estado, que Nietzsche chamou de “o mais frio de todos os frios monstros” era o inimigo.

A fim de manter uma sociedade livre, as pessoas precisavam manter certos valores. Murray era um tradicionalista que acreditava na lei natural e na família. Ele lastimava ataques à tradição como o movimento feminista moderno. Em assuntos culturais, Murray começou na direita e sempre se manteve lá.

Aqui estão algumas amostras do que ele disse: “Em nosso século, nós fomos inundados por uma enchente do mal na forma de coletivismo, socialismo, igualitarianismo e niilismo. Sempre foi claro feito água para mim que nós temos uma irrefutável obrigação moral – pelo bem de nós mesmos, de nossos entes queridos, nossa posteridade, nossos amigos, nossos vizinhos – de lutar contra este mal”.

Para fazer isso, nós devemos ficar com a sabedoria da filosofia perene: “Em contraste às outras ciências específicas ou à História, pode haver apenas uma pequena inovação genuína na filosofia de uma década, ou mesmo século, para o próximo. A filosofia lida com problemas eternos através de um discurso racional. Além disso, a filosofia genuína é apenas senso comum refinado, que não é melhor agora do que era na Grécia Antiga. Então não há nada muito novo que filósofos possam legitimamente dizer”.

Ele não via uso no feminismo moderno: “Nas raízes do movimento de libertação das mulheres está o ressentimento contra a própria existência da mulher como uma entidade distinta”.

Murray via as elites esquerdistas como inimigos dos valores que ele suportava, ele disse que “Nós vivemos num país estatista e num mundo estatista dominado pela elite dominante que consiste em uma coalizão do Grande Governo, Grandes Corporações e vários grupos de interesses especiais influentes. Mais especificamente, a velha América de liberdade individual, propriedade privada e governo mínimo foi substituída por uma coalizão de políticos e de burocratas aliados a, e mesmo dominados por, poderosas corporações e elites financeiras do Velho Dinheiro”. Como ele resumiu, “O grande perigo é a elite, não as massas”.

Durante os anos 60, se tornou evidente para Murray que o agente da CIA Bill Buckley colocou de lado a Velha Direita não intervencionista. “Conservadores” naquele período como o ex-comunista Frank Meyer e o ex-trotskista James Burnham queriam uma guerra preventiva para aniquilar a União Soviética.

Para Murray, o esforço contra a guerra era sempre o objetivo político primário: “A guerra é o alimento do estado”[NT], a frase famosa de Randolph Bourne, e a batalha contra o estado é uma batalha contra a guerra. A esquerda durante os anos 60 e 70 se opôs à guerra do Vietnã e a Guerra Fria em geral. Por causa disso, ele formou uma aliança política temporária com eles.

Um fato deve sempre estar em mente a respeito desta aliança. Ela foi estritamente limitada a política estrangeira. Murray nunca mudou sua mente a respeito dos valores conservadores sociais ou, é claro, do livre mercado.

Quando Murray viu que os valores da esquerda tomaram muito do Partido Libertário, ele começou a famosa “paleoaliança”. Ele juntou forças com tradicionalistas que também se opunham à guerra. Ao fazer isso, ele permaneceu fiel à sua visão consistente a qual ele nunca titubeou.

Se você quer saber como a visão de Rothbard aplicada à América contemporânea seria na prática, você deveria olhar para o Ron Paul. A carreira do Dr. Paul no congresso, marcada por sua oposição à guerra e ao FED, é o melhor exemplo dos valores de livre mercado antielitista que Murray suportava.

Aqueles muito enamorados ao “zigzag político” perdem o que é mais real e vital no trabalho de Murray Rothbard.

Artigo Original

Tradução de Larissa Guimarães

Revisão por Daniel Chaves Claudino

Notas:

[1] Confira o livro “Man, Economy and State”.

[2] “A ética da Liberdade” está Disponível em Português. Link Original em Inglês.

[3] Confira o livro Egalitarianism em Inglês. Algumas partes podem ser encontradas em sites libertários em português. Em breve, estará todo em português pelo nosso site Bunker Libertário.

[NT] A tradução ao pé da letra da frase de Randolph Bourne é “A guerra é a saúde do estado”, mas é mais conhecida em português como “A guerra é o alimento do estado”.

Jr. Llewellyn H. Rockwell Lew Rockwell

Llewellyn H. Rockwell Jr. ou simplesmente “Lew Rockwell” é fundador e presidente do Mises Institute em Auburn, Alabama. Editor do LewRockwell.com e autor de Fascism versus Capitalism.