O General de Gaulle foi insultado, zombado e vaiado por toda a imprensa americana por se levantar no Quebec e gritar: “Vive le Quebec Libre” (Vida Longa ao Quebec livre!), pois a mente americana parece totalmente incapaz de entender o princípio da secessão ou o desejo de uma minoria étnica oprimida de se separar e se libertar da tirania da maioria. Nos EUA, todos riram e chamaram de Gaulle de velho idiota senil e debilitado; mas no Canadá, e acima de tudo no Quebec, ninguém riu. Eles estavam com raiva ou amargor, ou estavam animados; mas eles não riram. Pois eles sabiam que o Canadá é composto por duas nações e que os britânicos dominaram os franceses no Canadá desde que a Grã-Bretanha invadiu e conquistou a Nova França (como o Canadá era chamado) em meados do século dezoito.

Por que os franceses do Quebec não deveriam ter o direito de se separar do Canadá e formar sua própria nação, onde prevalece a sua própria linguagem e cultura? Nenhum dos limites territoriais dos atuais governos do mundo é ordenado por Deus; todos eles são produtos das forças históricas, as quais a maioria foi injusta e coercitiva, com muitas resultando em minorias oprimidas e maiorias saqueando. Há aí então todas as razões do porquê esses limites e áreas estatais devem ser modificados para se adequarem mais com os princípios da liberdade e justiça.

Muitos libertários não conseguem entender o porquê alguém deveria tomar qualquer posição em relação à secessão. Os franceses não estariam somente criando um estado do Quebec e por que isso poderia ser melhor do que um estado canadense? Uma resposta pra isso é que a descentralização é boa por si só, porque o estado canadense será então enfraquecido e privado de poder em sua área territorial; quanto mais o mundo estiver fragmentado em mais estados, menor será o poder que um estado pode acumular, seja sobre seus próprios súditos infelizes ou seja  sobre povos estrangeiros ao fazer guerra.

Mas uma outra resposta é que enquanto os estados existem, é um ganho líquido eliminar a tirania do estado sobre um grupo étnico minoritário e a secessão desse grupo em seu próprio estado é, portanto, um ganho líquido importante para a liberdade. E há uma outra razão importante para aclamar o princípio da secessão per si: pois se uma parte do país é permitida a se separar, e esse princípio é demonstrado, então uma subparte dela deve ser permitida a se separar, e uma subparte dela, quebrando o governo em fragmentos cada vez menores e menos poderosos… Até que finalmente seja demonstrado o princípio de que o indivíduo pode se separar e então nós teremos finalmente a verdadeira liberdade.

E, assim, tantas razões: princípios, liberdade étnica, destruição pragmática do poder estatal do leviatã, principio final da secessão individual… é incumbente a todos os amantes da liberdade exaltar os movimentos de secessão, independente de onde e como possam surgir. Assim sendo, vamos saudar a todos: o Movimento de Liberação do Quebec, o nacionalismo escocês, o nacionalismo galês, a secessão do povo Ibo da Nigéria ocidental na república independente de Biafra, a secessão “esquerdista” do Congo oriental e a secessão “direitista” de Katanga e, por último mas não menos importante, a perspectiva de uma república negra que se separe dos EUA uma vez que houve a tragédia da derrota do Sul na Guerra Civil e devido a essa se enterrou o pensamento de separação neste país desde então. Mas isso não é o correto e a causa da secessão deve se levantar novamente.

Artigo Original

Tradução de Bruno Cavalcante
Revisão por Larissa Guimarães

Murray N. Rothbard

Murray N. Rothbard (1926-1995) foi um decano da Escola Austríaca e o fundador do moderno libertarianismo. Também foi o vice-presidente acadêmico do Ludwig von Mises Institute e do Center for Libertarian Studies