O Movimento Independentista paulista existe. Você já ouviu falar?

 

[NR.] Esta republicação é da entrevista de janeiro de 2014 que uma de nossas CEOs Luciana Toledo deu à revista pós-moderna VICE sobre o movimento de secessão paulista como representante do Movimento República de São Paulo (MRSP), É importante ressaltar que todos nós do site somos Anarcocapitalistas e é bom entender que esta entrevista, numa grande mídia de viés esquerdista, foi uma porta aberta para o MRSP naquela época. Também vale ressaltar para a maioria dos libertários novos que o que temos atualmente só foi possível por causa dos antigos que buscaram falar aos poucos das ideias libertárias em um “Brasil” completamente estatista e que nós próprios mudamos muitas de nossas visões expressas aqui.

Ela quer separar São Paulo do Brasil

Movimentos de dissidência eclodem Mundo afora, a insatisfação é geral. Não seria diferente, aqui, no Brasil. Em um bate-papo com Luciana Toledo do MRSP (Movimento Republica de São Paulo), a independentista que quer tornar São Paulo um País, fica a pergunta, como? A carta Magna brasileira é clara, os estados que formam o país são indissolúveis. Inspirada pela Revolução Constitucionalista de 32, Luciana fala da insatisfação com o que considera injustiças sistemáticas sofridas e impostas pelo governo Central ao estado de São Paulo. Segundo ela esse descontentamento existe desde quando o Brasil foi inventado. Suas ideias de dissidência geram desconfortos, desconfianças e perseguições, eventualmente é alvo de ataques pessoais, nesse caso compreensível. Essa paulista de 38 anos, com ideias nada convencionais, bem articulada, nascida e criada na Paulicéia, conclama o povo de São Paulo para uma cisão total com Brasília. O sonho de uma República para os paulistas. Uma visão fantasiosa ou realidade plausível. Quem teme o MRSP e sua ideologia de secessão?

 

 

VICE: Quem é Luciana Toledo?

LT: Sou paulista, nascida e criada na cidade de São Paulo, casada, tenho 38 anos.

VICE: Você é a atual presidente do MRSP? Como é ser mulher, em um país machista, e estar à frente de um movimento de secessão de um estado de tamanha relevância?

LT: Sim, sou presidente do movimento desde 2011. Ser mulher a frente deste movimento envolve lidar diariamente com vários tipos de preconceito. Primeiro, porque secessão ainda é tabu, as pessoas associam erroneamente esse tema com segregação e racismo. Segundo, porque as mulheres se envolvem muito pouco, quase nada, com política e temas polêmicos e os homens tendem a achar que mulher não serve pra debater esse tipo de assunto. Durante esses dois anos como presidente enfrentei mais preconceito velado do que abertamente por assim dizer. No começo as pessoas não me levavam a sério e isso inclui até mesmo pessoas simpatizantes à causa. Hoje a situação está mais amena, talvez por conta dos resultados positivos do MRSP.

VICE: O que te mobiliza?

LT: A vontade que tenho de que São Paulo seja um país livre e próspero é muito grande. Cresci em uma família que sempre incentivou o debate sobre a autonomia de São Paulo e como isso pode ser positivo para nós e todos os povos da América Lusófona. Meus avós lutaram na revolução, meus tios que viviam no interior contavam como foi passar pela revolução e isso marcou a minha infância. Eu aprendi em casa o que deveria ter aprendido na escola, a história que me contaram em casa foi bem diferente do que os livros passaram para a minha geração. Aliás, acho que a geração de hoje sabe ainda menos que a minha, porque não é do interesse do governo colocar na grade curricular que São Paulo sempre foi um estado pujante e que sempre buscou independência, entre tantos outros acontecimentos históricos que não são contados por não ser conveniente.

VICE: Como você se envolveu com o MRSP?

LT: Meu primeiro contato com o MRSP foi em 2007, por meio do Orkut. Eu estava cansada de não ter um meio de lutar, de fazer alguma coisa por São Paulo. Ficar gritando na internet que está insatisfeito com o atual sistema não traz retorno, com o tempo a poeira assenta, as pessoas esquecem o que foi dito e debatido nos fóruns e a vida volta ao de antes, mas alguns membros do MRSP eram bem ativos em um grupo do Estado de São Paulo e foi aí meu primeiro contato. Em janeiro de 2008 fui a um encontro com membros do MRSP, não era um encontro oficial, era mais uma reunião com simpatizantes, e conheci pessoas que pensavam de forma parecida com a minha, foi aí então que me filiei ao MRSP e daí a me engajar mais com as ações do movimento foi um pulo. Ia a todas as reuniões que podia, colaborava com divulgação, organizava encontros e, em 2009, o então presidente me convidou para ocupar o cargo de vice. O cargo estava vazio porque o vice tinha se afastado e eu aceitei. Fui colocada na vice-presidência por mérito. Em dezembro de 2010 o presidente organizou uma eleição e o candidato que foi eleito me convidou para permanecer no cargo. Mas acontece que esse presidente acabou renunciando com 40 dias de mandato e eu me vi às voltas com muita coisa do movimento. Eu achava que era demais para mim, ter que lidar com tantos detalhes, com tão pouco material humano para me ajudar a desempenhar esse papel, já que o movimento é formado de trabalho voluntário e fiquei tentada a largar tudo. Foi o meu marido quem me ajudou a colocar a cabeça no lugar e pensar com calma sobre o que deveria ser feito e, a partir daí, começamos um trabalho para limpar a imagem do movimento que estava muito desgastada por causa de ações paralelas e não oficiais de pessoas que pensavam poder falar em nome do movimento, simplesmente porque simpatizavam com a causa independentista.

VICE: O que é o Movimento Republica de São Paulo (MRSP)?

LT: O MRSP é um movimento que visa defender o ideal da independência do Estado de São Paulo, pacífica e voluntariamente, através de um plebiscito, lutar pela autonomia legislativa e tributária de São Paulo, além de restaurar São Paulo em aspectos culturais, promover a identidade do povo Paulista, valorizar patrimônios históricos e resgatar o orgulho de ser Paulista.

VICE: O que pretende o MRSP?

LT: O MRSP pretende, por meio do diálogo com todas as pessoas, mostrar que cada estado que compõe o que conhecemos por Brasil tem uma necessidade distinta. Da forma como tudo foi organizado, todos os estados perdem, pois estamos sujeitos a um governo que, na prática, não está presente em nossos estados, não sabe quais são os problemas nem a realidade de cada um, um governo completamente centralizado e inchado. O que queremos é mudar isso, mas primeiro precisamos conscientizar as pessoas de que o sistema atual não funciona e só beneficia quem está no poder. As coisas precisam mudar. Mas, para que isso ocorra, as pessoas precisam se abrir para o debate, parar de pensar em racismo e segregação e começar a pensar de maneira mais ampla. Eu sou da seguinte opinião, se cada estado se separar e for viver sua vida da forma que melhor lhe convém, outros povos dentro desse estado também quererão buscar sua independência, um poder descentralizado é mais facilmente administrado e mais dinâmico e a população tem mais contato com aqueles que podem viabilizar os projetos que sejam bons para elas, assim como controlar de perto as ações desse governo.

VICE: Você acredita que o estado de São Paulo, independente, estaria em uma situação política, econômica e social, melhor? De onde vem essa convicção?

LT: Sem dúvida que estaria, tanto nós quanto qualquer outro povo dentro da América Lusófona. Primeiro, porque teríamos de volta a administração dos nossos aeroportos e do nosso tão cobiçado Porto de Santos. Este o governo federal nos tomou e agora ele está abandonado. O Porto de Santos tem um papel fundamental para o avanço de São Paulo, ele é nossa porta de entrada para matérias primas e produtos manufaturados, além da quantidade de pessoas que trabalham no porto e isso gera capital. São Paulo tem um volume de carga muito grande, mas também tem uma carga tributária intensa, que nos sacrifica dia a dia. Hoje apurei o quanto enviamos para Brasília no ano de 2013, não cheguei ao valor total porque o governo federal ainda não liberou as informações de Dezembro, mas de Janeiro a Novembro foram mais de R$408 bilhões. Desse valor, foi devolvido ao governo estadual pouco mais de R$29 bilhões. Esse valor é repassado para as cidades do nosso estado e grande parte desse dinheiro fica nas mãos do governo do estado. Agora, suponhamos que não precisássemos enviar esse dinheiro para o governo federal, eu acredito que teríamos muito mais qualidade de vida a oferecer a quem mora nesse estado com mais de 40 milhões de habitantes. Em 2012 enviamos R$285 bilhões e recebemos R$25 bilhões de volta. O que está acontecendo no governo federal?

A arrecadação de 2013, se comparada com a de 2012, teve um crescimento de mais de R$123 bilhões que foram enviados ao governo federal. Agora, imagine que este dinheiro pudesse ficar aqui mesmo, quanta coisa poderíamos fazer com ele? Obviamente que São Paulo sendo um país, vários impostos que têm a única finalidade de arrecadar dinheiro para o governo federal deixariam de existir e isso seria ótimo para os produtores, todo mundo se beneficiaria disso, desde agricultores a fabricantes e lojistas.

Além de tudo isso, temos um fator crucial a nosso favor: nossa capital é a quarta maior cidade do mundo, muitos querem investir aqui por se tratar de uma cidade completamente diferente do que há nos outros estados do Brasil, então não vejo motivos para não sermos bem sucedidos quando virarmos um país.

VICE: Qual a relevância da Revolução de 32 para um movimento como o MRSP?

LT: Precisamos lembrar as pessoas de que nossos parentes e entes queridos se entregaram a essa batalha desigual e que houve traição por parte do governo federal e por parte de alguns estados que prometeram ficar ao nosso lado, mas que, diante da pressão do Getúlio Vargas, acabaram cedendo. A Revolução é uma parte importante da memória paulista e foi a guerra mais significativa para nós até hoje, por isso precisamos deixar bem marcado na memória das pessoas como é importante que um povo se una por uma ideia, é preciso adquirir consciência disso, é nossa história composta pelo povo, pessoas comuns, pais de família, filhos, irmãos. Todas essas pessoas que foram lutar nas trincheiras e defender a sua terra, das famílias que doaram todo seu ouro na campanha “Ouro para o bem de São Paulo” e todas as pessoas que procuraram se envolver de alguma forma, direta ou indiretamente, com a Revolução. Eu me emociono de pensar como as pessoas podem fazer grandes coisas por meio do voluntarismo e com uma ideia na cabeça, com determinação. A derrota é mera casualidade, o que importa é a ideia.

VICE: A Carta Magna brasileira é clara quanto à indissolubilidade dos Estados e Municípios e do Distrito Federal. Sendo assim, como seria possível de forma constitucional a independência de um estado federativo brasileiro?

LT: Acredito que somente a conscientização de todos os povos da América Lusófona pode gerar alguma repercussão. As pessoas têm que se expressar, falar a respeito e tornar esse debate público, as escolas têm que voltar a mencionar os nomes dos líderes do movimento independentista que eclodiu com o PRP (Partido Republicano Paulista), partido que foi extinto por meio de uma lei federal que proíbe partidos estaduais. Por que essa lei? O governo federal não quer que todos os povos sob seu jugo falem sobre independência? Este governo não quer que as pessoas pensem como seria se pudéssemos mandar na nossa própria casa? Fizeram muitos acreditarem que simplesmente mencionar a palavra “separação” já seria motivo para ir preso, mas não estamos fazendo nada ilegal, estamos dialogando de maneira pacífica, conforme a CF nos garante. Mas acredito que a partir do momento que a maioria adquirir consciência do que é essa farsa em que estão nos obrigando a viver, será difícil conter a vontade de todos se sentirem livres. Daí, não importa qual for o meio, quem vai segurar toda essa gente com essa mesma ideia?

VICE: Qual é a filosofia politica de um movimento separatista como o MRSP?

LT: Não sei como os outros movimentos independentistas lidam com essa questão, mas o MRSP é um movimento heterogêneo. Existem desde conservadores até anarquistas entre nossos membros e a única coisa que nos une é o ideal de independência para São Paulo.

VICE: Você já foi processada por tuas convicções separatistas?

LT: Não. E porque seria? Pensar não é crime e mesmo assim, não desrespeito ninguém.

VICE: Já foi acusada de racismo, por exemplo?

LT: Informalmente e esporadicamente algumas pessoas que não me conhecem me acusam de ser racista porque para elas é mais fácil me xingar do que debater com argumentos. Ninguém do meu círculo familiar, pessoal e até mesmo profissional me vê como tal, mas é uma tática comum dos que se aproximam com a única e exclusiva função de “agredir verbalmente”. Acredito que essas pessoas falem do que o coração delas está cheio, “o espelho são os outros”. Teve uma vez que abri meu perfil no Orkut e me deparei com uns quatro depoimentos de uma mesma pessoa, em todos eles a pessoa me xingava de tudo quanto era nome, não só de racista, misturando o movimento com o que ele achava que eu fazia na minha vida pessoal, e deu pra perceber que a pessoa tinha raiva de mim simplesmente por eu liderar um movimento independentista. As pessoas têm essa necessidade de serem ouvidas, elas precisam falar que elas odeiam alguém pelo simples fato deste alguém pensar diferente delas, mesmo que esse não tenha feito nada contra elas. No começo eu ficava triste porque nunca me passou pela cabeça separar São Paulo somente para um determinado tipo de pessoa ou com determinado ideal que não fosse o de independência e liberdade. São Paulo é um lugar composto por pessoas de vários lugares do mundo, são essas pessoas que fazem nosso estado ser tão grande e próspero e receber acusações desse tipo realmente me aborreceram muito no passado, mas hoje as coisas estão um pouco mais tranquilas, parece que as pessoas estão abrindo suas cabeças e, consequentemente, mais aptas a ouvir o que temos a dizer.

VICE: Você se considera uma pessoa preconceituosa e segregadora?

LT: Todos temos preconceitos. Não existe ser humano completamente desprovido desse sentimento, mas acredito que um movimento com a importância que pretende ter o MRSP não tem espaço para esse tipo de pensamento em demasia. Tudo bem ter preconceito, dentro das nossas cabeças ainda somos livres e também não me sinto a vontade para julgar ninguém dentro dessa questão. O problema está quando alguém imbuído de algum preconceito desrespeita outras pessoas que não pensam como ela. Porém, como libertária, procuro exercitar minha evolução, tento expandir meus horizontes e ouvir as pessoas que pensam diferente de mim e o que elas têm a me ensinar e a única coisa que defendo com muito afinco é a liberdade. Tenho preconceito com pessoas que implicam com o fato de eu acreditar que São Paulo tem capacidade para ser um país, por exemplo. Mas eu acredito ser uma pessoa livre dos preconceitos que mais aterrorizam a humanidade. Eu sou como qualquer outro ser humano.

VICE: É difícil pensar de forma autônoma no Brasil?

LT: Sim, isso é muito difícil em todos os âmbitos. Nossas leis são ultrapassadas, desde o código penal até o sistema tributário. A maioria das leis que atrapalham nossas vidas são federais, as pessoas não têm liberdade para decidir sobre suas próprias vidas e tudo o que queremos fazer no sentido de melhorar alguma coisa precisa ter autorização do governo federal. Por exemplo, é muito difícil é prosperar como empreendedor. Pagamos tantos impostos que é praticamente impossível que um pequeno empresário sobreviva por mais de dois anos. A maioria das empresas fecha antes disso porque a carga tributária é tão grande e os encargos trabalhistas são tão pesados que as pessoas procuram a via informal, mas aí um belo dia aparece um fiscal e a empresa fecha. A cada dia que passa é mais difícil encontrar um produto manufaturado aqui. Roupas, por exemplo, são feitas na China. Não tem costureira em São Paulo? Sai mais barato importar do que produzir, é claro. Posso imaginar quantos empregos seriam gerados pelo alívio da carga tributária. No fim do mês o empreendedor tem que pagar os impostos, que não são poucos, se quiser manter a empresa aberta. Mas como ele pode fazer isso sem que a sua contabilidade não saia prejudicada? Se ele não consegue honrar seus compromissos com a receita seus funcionários perdem o emprego e todos irão depender por um tempo de ajudas assistenciais do governo.

Outro exemplo é a questão do porte de armas. O referendo de 2005 deixou claro que a população não quer ser desarmada. Isso deveria bastar. Eu acho que cada cidadão sem antecedentes criminais, com cursos de manuseio de armas e de tiro poderia portar uma arma. Mas o governo federal não quer isso. Ele quer que as pessoas acreditem que portar uma arma de fogo é perigoso mesmo para aqueles que são treinados, que as pessoas agiriam por impulso, etc., mas isso é uma grande besteira, a vida seria mais segura. Por que cada estado não pode decidir isso? Por que essa decisão tem que ficar na mão do distante governo federal? Bastaria que cada estado decidisse ou não se o porte de armas é permitido. Recentemente, um portal na internet fez uma pesquisa e 99% dos moradores da cidade de São Paulo são a favor de portar armas. Legalmente nós não somos impedidos disso, mas o governo federal faz de tudo propositalmente para dificultar a entrega da arma de fogo.

Ou seja, não existe autonomia no Brasil.

VICE: O livre pensamento é uma ameaça aos interesses daqueles que querem manter as coisas como estão. Apontar o dedo para o “Poder” é perigoso?

LT: Claro, sem dúvida! Quem sou eu? Apenas mais uma cidadã pagadora de impostos. Eu não faço parte de nenhum partido político, de nenhuma grande corporação, eu não pego empréstimo do BNDES, eu não tenho amigos influentes, eu não crio leis… É perigoso, mas eu não vou deixar de fazê-lo. É meu direito, minha liberdade de tentar mudar a coisas, eu vou tentar todas as vias pacíficas que estiverem ao meu alcance.

VICE: Ser uma separatista, defendendo ideias não convencionais, convenhamos, dá margem para todo tipo de “hostilidade” e “pejorativismos” com relação a tua pessoa, certo? Você sofre algum tipo de perseguição e hostilidade em função de tuas ideias?

LT: Não, tirando os episódios de xingamento nas redes sociais, o que eu considero bastante comum e tolerável.

VICE: É sabido que existem outros movimentos separatistas pelos quatro cantos do Brasil. Você mantém contato com algum deles? Quais?

LT: Sim, temos contato com o Sul é meu País, O Nordeste Independente e Rio Independente.

VICE: Como são financiadas as atividades e a propaganda do MRSP, você já recebeu ou recebe algum tipo de financiamento de organizações não governamentais, por exemplo?

LT: O MRSP se sustenta, basicamente, de trabalho voluntário e ocasionais doações, mas o trabalho voluntário é o grande motor do movimento. Não temos nenhum vínculo com ONGs, tampouco recebemos financiamento de qualquer organização. Toda a propaganda nas redes sociais é criada e desenvolvida por mim, desde a geração de conteúdo até a finalização da arte, o site e seu conteúdo têm contribuição de algumas pessoas que por ventura venham a manifestar interesse em escrever artigos, mas a manutenção e a hospedagem são mantidas por mim, eu faço pela causa, é voluntário.

VICE: Existe algum vínculo do MRSP com grupos de ideologia de extrema direita, grupos neonazistas ou fascistas?

LT: Não, mesmo que eu ou qualquer outro membro quiséssemos e fossemos a favor, isso não seria permitido, pois o Estatuto deixa clara essa proibição. É proibido discriminar.

VICE: O MRSP declara em seus objetivos defender o ideal da independência do Estado de São Paulo pacífica e democraticamente, através da forma plebiscitária. A ideologia dos movimentos separatistas fala de “luta”, não necessariamente guerra, se consegue “independência” por meios pacíficos?

LT: Como eu disse anteriormente, acredito que a partir do momento que a maioria adquirir consciência do que é a farsa em que estamos obrigados a viver, será difícil conter a vontade de todos se sentirem li. Daí, não importa qual for o meio, quem vai segurar toda essa gente com essa mesma ideia?

VICE: Luciana, em números, você saberia dizer qual a dimensão dos chamados separatistas no estado de São Paulo?

LT: O MRSP tem mais de 1000 membros cadastrados, mas existem movimentos menores e grupos de estudos, infelizmente eu não sei informar com precisão. Sei que nossa página no Facebook tem quase 2000 likes e existem mais algumas outras páginas que defendem a nossa ideologia, além do twitter, onde temos mais de 5500 seguidores. Não somos poucos, mas estamos pulverizados e fica difícil agregar todos em um só movimento. Muitos não concordam com a minha postura libertária e preferem se agrupar de outra forma, porque tem comportamentos que não se alinham com o MRSP e nosso estatuto é claro quanto a condutas discriminatórias.

VICE: A população está mobilizada?  As pessoas conseguem compreender o separatismo, suas reais consequências, bônus e ônus, para um estado com a importância e relevância do estado de São Paulo?

LT: Não, acho que o processo de conscientização apenas começou. Percebi que durante os protestos, muitas pessoas levantaram essa questão, tanto pessoalmente quanto nas redes sociais, parece que começam a pensar fora do que nos é imposto pelos meios de comunicação. A insatisfação gera a necessidade de mudar, foi um passo importante para que as pessoas saíssem da sua zona de conforto e fossem buscar alternativas que se ajustem melhor à sua realidade, mas isso não pode parar. Começou, mas deve ter uma manutenção constante. É como uma planta, um ideal deve ser regado constantemente, senão morre.

VICE: Os jovens se interessam pelo movimento?

LT: As pessoas que mais entram em contato conosco pelo site são jovens entre 18 e 24 anos, as pessoas nessa faixa etária sempre estiveram em maior número e eu acho normal e saudável. Todo jovem tem em si essa inquietude, essa vontade de se envolver com algo de grande importância, mas de acordo com os dados disponibilizados em uma rede social, nosso público maior está entre os 25 e os 34 anos, essa faixa etária compõe quase 30% do nosso público. Eu acho isso muito bom, significa que as pessoas estão amadurecendo essa ideia e olhando esse assunto com outros olhos.

VICE: Maior autonomia para todos os estados federativos não seria um caminho do meio, menos radical? Isso não resolveria boa parte das demandas, cada estado com sua “autonomia” indo de encontro aos interesses, específicos, de cada estado ou região?

LT: Em curto prazo essa pode ser uma medida cabível, mas é paliativa, pois não somos todos brasileiros. O que é o “povo brasileiro”? Qual a sua cultura? Não existe um povo “brasileiro”, o que existe são paulistas, cariocas, paranaenses, matogrossenses, gaúchos, etc, realidades distintas, cujo único vínculo é Brasília. Tirando isso, qual outro motivo para estarmos juntos nesse país de proporções gigantes? Nem todos tem o sotaque da Mooca, ou bebe chimarrão, ou coloca ketchup na pizza, entre outros. Cada povo deve e precisa poder defender sua cultura, preservá-la para que não haja imposição cultural, sem que as coisas fiquem bem demarcadas isso não tem como acontecer. O que vemos hoje é uma imposição do “somos todos brasileiros”, mas, de modo geral, o forasteiro não se sente bem fora de casa. Isso é fato. Já sofri preconceito por ser paulista em viagens para fora de São Paulo e também já vi pessoas sofrendo preconceito por aqui. Uma vez levei um casal mineiro para jantar em uma famosa pizzaria daqui de São Paulo. A moça queria por ketchup na pizza e eu a alertei de que ela não deveria fazer isso, mas mesmo assim ela pediu ketchup para o garçom, ao que este fez uma cara muito feia e disse que ele não ia contribuir para jogar o trabalho do pizzaiolo no lixo. “Em Roma, haja como os romanos”, já dizia o ditado. Ou seja, forçam nos misturar a todo custo, mas, com disse antes, não somos todos brasileiros, as pessoas precisam parar com essa mentira de que existe uma “cultura brasileira”. O que existe é a informação pasteurizada que é distribuída pela mídia porque essa é a agenda, essa é a estratégia do governo federal. Tornar todos os povos da América Lusófona uma “coisa” só, que não tem definição, nem história cultural.

VICE: De alguma forma você ainda crê no Estado brasileiro? Alguma esperança em dias melhores? Como você vê o futuro do Brasil e o futuro de São Paulo?

LT: Eu não acredito que possa melhorar. Brasília está cavando um buraco cada vez mais fundo. As políticas assistenciais do governo federal nos forçam a pagar muito mais impostos a cada ano. Já estamos em um processo de desindustrialização e graças ao assistencialismo do governo as pessoas não querem mais trabalhar. Elas preferem viver à custa de auxílios a crescer profissionalmente. Quem opta por trabalhar honestamente encontra vários obstáculos, entre eles os salários que muitas vezes não são satisfatórios por causa da alta carga tributária que recai em cima do contribuinte. E a cada dia teremos que trabalhar mais e mais para injetar capital nessa máquina, porque a população está envelhecendo e muitos estão em vias de sacar suas aposentadorias, só que o governo não tem como sustentar isso. É muito assistencialismo, muita bolsa, muita caridade. Como dizia Thatcher “O Socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros” e a hora que não tivermos mais dinheiro para injetar nessa máquina estatal a população não vai ter uma reação positiva. São Paulo já está no mesmo caminho, uma vez que aqui imperam as leis de Brasília e pouco podemos fazer para impedir a catástrofe, assim como todo mundo da América Lusófona, que vai pagar o alto preço desse “almoço grátis”.

VICE: Em que momento o Brasil deixou de servir aos interesses dos paulistas?

LT: O que você chama de Brasil eu prefiro chamar de Brasília, porque é para lá que vai o nosso dinheiro. Os povos da América Lusófona não tem nada a ver com os interesses paulistas, eles não precisam servir aos interesses de São Paulo. Eles têm suas casas para cuidar, suas vidas, seus impostos para pagar, e é assim que deve ser, cada um cuida daquilo que é seu. Quem deve servir aos interesses dos paulistas são os próprios paulistas e isso também deveria acontecer com todos os povos lusófonos sul americanos, que estão atualmente sob o jugo de Brasília, todos deveriam se libertar desse “casamento” forçado. Já a relação que São Paulo tem com Brasília é uma coisa unilateral, esse sistema todo foi feito para arrancar dinheiro até o último centavo do povo paulista. São Paulo só manda dinheiro, sempre foi assim, se um dia Brasília serviu aos interesses do povo paulista, eu desconheço essa história.

VICE: Para encerrarmos, como você vê o futuro do MRSP para os próximos anos?

LT: Acredito que o mais importante não é quanto membros filiados nós temos, mas quantas pessoas conseguimos “incomodar” com o nosso discurso. Se estamos incomodando é porque estamos tocando no ponto certo. Ninguém começa uma mudança com todos estando satisfeitos. Eu gosto da insatisfação nas pessoas, é isso que gera inquietude e que faz com que as pessoas saiam da sua zona de conforto. O MRSP vai continuar fazendo isso, incomodando as pessoas que não querem falar da independência de São Paulo ou que desejam o assunto como um tabu. Vai continuar falando dessa ideia de maneira incansável, porque quando eu sair outro entrará no meu lugar e assim vai. Sempre existirão pessoas insatisfeitas e o MRSP está atrás delas.

Artigo original
Escrito por Fabiano Post – Revista Vice.

Nova revisão e notas por Larissa Guimarães – Bunker Libertário.

Luciana Toledo

É autodidata, anarcocapitalista e presidente do Movimento República de São Paulo.

1 Comment

  1. Gustavo Araújo

    Junho 30, 2019 at 1:22 pm

    Ideia visionária

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